Locked groove é o último sulco do vinil, quando a agulha para no final de um dos lados. Não tem tradução boa para o português - ranhura bloqueada é técnico e sem graça demais.
É aquele momento em que as conversas avançam enquanto o disco está rodando, sem música alguma. Ao mesmo tempo em que busca outro disco dentro da capa ou vai trocar o lado, você continua uma história, ou começa qualquer assunto que valha a pena: drinques, viagens, livros, música, o que for.
O que fizer sentido na hora.
1.
A vista de Berlim desde a janela do avião lembra os planos iniciais de Asas do Desejo, de Wim Wenders - o travelling sobre os prédios baixos, austeros e bem ordenados da capital alemã. O grande parque Tiergarten ao fundo, a antena de TV da antiga capital da Alemanha Oriental sempre presente, como a vigiar a todos. A descida era no aeroporto antigo, Tegel - em outubro de 2013, o novo aeroporto de Brandenburg ainda era apenas um escândalo infinito de corrupção e incompetência, revelado a cada semana pela imprensa alemã, e cada vez mais longe de ser entregue (o que aconteceu, finalmente, em 2020, em plena pandemia - mesmo com todos os voos suspensos).
Tegel, um dos palcos da ponte aérea de 1948 que socorreu Berlim Ocidental1 após o bloqueio realizado pela União Soviética, tem um ar vintage, quando comparado a outros aeroportos. Tem a cara de cenário de filme da Guerra Fria. É a entrada perfeita para a cidade: vista de cima, a capital alemã parece cinematograficamente promissora em boas histórias. A expectativa vinha de longe: quantos álbuns gravados no Hansa Studios em Berlim ouvi? Quantas histórias de Iggy Pop e David Bowie? As lendas de Nick Cave and the Bad Seeds, Einstürzende Neubauten e outros, nos anos 1980, morando em squats e tocando em cada clube enfumaçado e decadente da cidade. Ou Christopher Isherwood nos anos 1930 com Sally Bowles e outros personagens antológicos em um raio-x da Berlim a caminho das profundezas do fascismo. Anos e anos de histórias que formavam uma Berlim imaginária, mítica e desafiadora.

É um imaginário que começa pelo álbum homônimo da cidade, Berlin, de Lou Reed, de 1973. Ouvi por anos, pensando ser a trilha sonora prototípica de lá, até descobrir que Lou jamais havia pisado na cidade antes de fazer esse disco. Berlim, para ele, era um estado de espírito de um casal em crise, duas metades antípodas que não tinham como se reconciliar. “Poderia até se chamar Brooklyn”, Reed contou em entrevista. Mas não importa: da mesma forma que, com esse disco, criei uma Berlim específica na minha cabeça, o mesmo pode ter acontecido com outros. Como se Lou Reed estivesse lá antes de todos. Bowie, grande fã, produtor do maior sucesso comercial do ídolo no ano anterior, pode ter levado isso em conta quando foi morar lá - Isherwood, Lou, expressionismo: pequenas peças que se juntam em um todo coerente.
Mas mesmo sem ser sobre a cidade, como dissociar aquela capa, que olhei durante anos, da imagem de Berlim com que nos acostumamos em filmes e livros? A Berlim dos prédios decadentes, dos pátios internos sem sol, dos portões abertos que levam a corredores escuros e úmidos, dos tetos manchados e do papel de parede rasgado e desbotado no primeiro restaurante em que jantei na cidade, dos buracos de bala ainda presentes nas paredes de casas do lado oriental, das estações de metrô que ainda mantinham muito do mobiliário e da decoração de antes da Guerra?
Na primeira saída a pé pela vizinhança da Chaussestrasse (onde antes havia um checkpoint entre os dois lados da cidade dividida), segui para o lado errado da rua, confuso com o sistema de numeração alemão. Estava em busca de um restaurante que oferecia jantar a 10 euros, com direito a uma taça de vinho. Na quadra em que começavam os inferninhos e sex-shops, um garoto de não mais que 20 anos levantou repentinamente de um degrau na entrada de um prédio e pediu dinheiro, falando primeiro em alemão, e depois mudando para inglês, ao ver que eu não havia entendido - tremendo bastante, pálido, com sintomas dos primeiros estágios de abstinência. Atravessei a rua rapidamente e deixei ele para trás, talvez fraco demais para insistir.
Finalmente, achei o lugar que procurava - e era bem em frente a onde eu estava hospedado, exatamente do outro lado da rua. Chaussestrasse sempre foi famosa por ser a “rua dos franceses" em Berlim, onde nacionais da bandeira tricolor se juntavam em uma comunidade própria. O restaurante era um pequeno bistrô - a primeira indicação de que não existe, de fato, uma comida típica alemã em Berlim. Aquele salão, vindo diretamente dos anos 1920, era claramente frequentado por locais, com comida honesta e preços bons - o que é uma constante em Berlim.
Tudo o que vi, nos dias seguintes, apontava para uma grande miscelânea da cozinha de diferentes países: vietnamitas, austríacos, poloneses, franceses. Até o prato mais conhecido, CurryWurst, é bem pouco alemão, nascido em 1949 de escambos entre uma dona de casa e soldados britânicos, que forneceram molho inglês e curry para ela. Talvez seja esse o charme de Berlim: é uma cidade que pertence a ninguém e, ao mesmo tempo, a todo mundo. Uma babilônica concentração de gente de todos os lugares, acessível, com um ritmo próprio.
Essa vocação começou ainda na época da Guerra Fria, quando Berlim Ocidental era uma cidade em que não havia serviço militar (exigência do acordo de divisão da cidade), isolada no meio do território da Alemanha Oriental. Jovens alemães começaram a se mudar para a cidade em reconstrução, que foi ficando para trás enquanto a República Federal da Alemanha virava uma potência econômica de novo. Até hoje é uma cidade mais pobre do que as outras metrópoles alemãs. Após a reunificação, continuou uma cidade de extremos: o leste empobrecido foi incorporado, estrangeiros sem dinheiro de todo o mundo começaram a chegar, misturando-se aos antigos moradores da época das vacas magras, ao mesmo tempo em que empresas e o próprio governo alemão voltaram à nova (antiga) capital e trouxeram grana, até então escassa. O turismo também deu um salto nessa época e hoje é bem maior do que nos tempos do muro. Essa multiplicidade de vozes é que faz a sinfonia da capital alemã.
Com duas semanas para vagar pela cidade, dava para fazer tudo sem pressa. Andar pela Torstrasse, uma rua do lado oriental com pequenas lojas locais e cafés, parar para tomar uma Fritz Cola em alguma lojinha de conveniência atulhada de bebida, jornais e revistas, passar por sebos, lojas de móveis de design usados, brechós, lojas de discos, livrarias. Parar para uma comida de rua - em geral, um CurryWurst por menos de 2 euros. Tomar café em alguma barraquinha qualquer, lembrando de Peter Falk estendendo a mão no vazio. “Amigo".
2.

Os museus de Berlim contam uma história complexa e por vezes dura, de uma cidade que esteve no centro de grandes acontecimentos do século XX: desde o Topografia do Terror, dedicado aos totalitarismos, até o Jewish Museum, passando pelo Bauhaus Archiv, cada faceta da cidade é exposta, esmiuçada. Só por isso já valeria a visita. Mas não é somente por essa história oficial que se entende a cidade. O que se aprende ao andar por suas ruas, sem pressa, é o que faz cada visita ser única. É como se existissem duas Berlins: uma que está na cara de todos, outra que está para se descobrir. Ambas com pontos de contato entre si, mas cada uma com sua vida própria. Um brasileiro se espantou por eu ficar duas semanas na cidade - falou que 3 ou 4 dias seriam suficientes. Se você segue a rota turística tradicional, isso pode ser verdade; se você quer descobrir por si o que é Berlim, duas semanas são pouco.
E tem muita descoberta interessante a se fazer, mesmo no circuito tradicional de museus. No Museu de História Natural, além do acervo, você conhece um lugar ainda distante do frenético espírito de parque temático que tem tomado conta de museus como esse. A austeridade prussiana foi preservada nesse museu, que ficou do lado oriental durante décadas. Exposições sóbrias, informativas, mas pouco gráficas - mas por que mesmo precisamos disso? Alguns animais empalhados (a melhor taxidermia do mundo, dizem) ainda conservam, propositalmente, partes chamuscadas e buracos de bala, herança do tempo em que soviéticos transformaram o prédio em QG militar, na tomada de Berlim. Na Berlinische Gallerie, uma exposição sobre a arte das cidades germânicas Viena e Berlim no final do século XIX e início do XX, mostrava o quanto Viena era uma metrópole cosmopolita, séria e sofisticada, em contraste com a “irmã menor” mais operária, jovem, doida e suja da época, e mais provinciana e desconfiada, por incrível que pareça. E valeu muito ver, exposto na sua cidade de origem, o Roquairol, de Henkel, inspiração para a capa de “Heroes".
Para quem tinha uma outra Berlim na cabeça, andar pela Hauptstrasse e ver por fora o antigo apartamento de Bowie, no nº 155, é tão importante quanto ir aos museus ou assistir a Filarmônica; a Zoo Station parece ser a mesma desde os anos 1970, quando Iggy Pop passava por lá. E ser passageiro dos mesmos ônibus e bondes que Iggy pegava durante o domingo, rodando pela cidade e conhecendo o máximo que podia, traz uma boa sensação de calor para o frio de outubro. Nollendorfstrasse, 17, onde Isherwood morou brevemente, ainda está lá; mas o clube Dschungel, onde Bowie e Iggy passavam madrugadas, não mais. Em 3, 4 dias não daria para fazer tudo isso - e, muito menos, ver uma peça em alemão (mesmo sem entender nada) no Berliner Ensemble, de Brecht, e depois jantar na Ganymed Brasserie, um restaurante francês tradicional, às margens do Spree, onde a nomenklatura da antiga República Democrática Alemã desfrutava dos prazeres capitalistas.
Essa Berlim do avesso também se encontra na rota dos restaurantes mais legais. Se você vai apenas pelos guias tradicionais, periga ficar preso aos arredores da PotsdamerPlatz, do Tiergarten, da Alexanderplatz ou outras ruas mais badaladas. Come-se bem em Berlim, mas o que fica de fora das dicas mais batidas é bem mais interessante. Como o Katz Orange, restaurante farm to table e com carnes de caça, um preferido de Lou Reed - anos depois de seu disco de 1973, Reed virou um habitué da cidade, que o tratava como o popstar que nunca foi e que nunca quis ser, de fato. O restaurante, que fica no prédio dessacralizado de uma antiga Igreja, depois transformado em cervejaria nos tempos da RDA, escondido em uma rua escura, é uma das dicas mais certeiras que dou a alguém que me pede indicação de onde comer bem em Berlim.
Da mesma forma, também indicaria um restaurante de comida austríaca se não tivesse esquecido o nome, também em Mitte, cuja lâmpada sobre a porta discreta era a única luz acesa na rua inteira. Se você é um turista que segue religiosamente os guias tradicionais, talvez desse meia-volta ao ver essa acanhada entrada. Por trás da porta simples, havia um restaurante estrelado, com ótima comida, servida sem afetação nenhuma, em um salão de design contemporâneo e de bom-gosto. Cheio, mas não lotado. O que acontece muito em Berlim: a cidade tem seu próprio ritmo e não tem pressa.
Talvez por isso a noite em Berlim, ao contrário do que se fala, não é uma constante movimentação frenética. Estações de metrô funcionam sem interrupção entre as 6 da manhã da sexta feira e a 1 da manhã da segunda. E não são lotadas. Você pode passar dias sem ver qualquer funcionário do metrô nas plataformas. Nos vagões, o aviso diz em alemão e em inglês para não jogar garrafas nos trilhos - a administração deve ter desistido de fazer com que não bebessem nos vagões. Pelo menos, então, que não causem acidentes trágicos.
Lido, SO36 e outros clubes garantem que a madrugada tenha boas pistas de dança, bons shows (até Tindersticks, em um teatro antigo), bons drinques e longas caminhadas noite adentro - Berlim tem bom e eficiente metrô, mas não é tão cheia de estações quanto outras cidades. No ritmo próprio da capital alemã, você não precisa ter pressa para nada. Pelo menos, não ainda.
Berlim continua uma cidade dividida: de um lado, as ruas da antiga capital oriental ainda mantêm muito dos prédios antigos, das pequenas praças comunitárias do regime socialista e das estações de metrô antigas. É uma confusão de bondes, bicicletas sobre a calçada, cafés com mesinhas do lado de fora, barraquinhas e stands de comida de rua. Do outro, no lado ocidental, os prédios com fachadas de vidro, de arquitetura contemporânea, as elegantes calçadas com ciclovias marcadas e jardins super bem cuidados.
Por toda a cidade, gruas indicam onde novos prédios estão subindo, como se a cara reconstrução da Potzdamerplatz, que era um grande descampado na terra de ninguém entre as duas Alemanhas, antes da queda do muro, agora se espalhasse pela cidade toda. E dá para ver como o dinheiro vai transformando uma cidade, que ainda é pobre para os padrões germânicos, mas que cada vez mais se insere nesse novo mundo. Ao mesmo tempo, imigrantes e jovens artistas continuam a vagar pelas ruas e a trazer uma vibração pouco comum em cidades tão antigas e cheias de história. Alugueis baixos, que eram um dos motivos para Berlim ser um imã de gente jovem sem muito dinheiro ou de imigrantes igualmente duros, agora começam a rarear na cidade. Por enquanto, ainda é uma cidade dividida - talvez uma nova unificação se dê pelo dinheiro e pela gentrificação.
3.

Berlim é, antes de tudo, uma cidade da reinvenção. Bowie é o caso mais citado de quem escolheu a cidade para ‘a new career, in a new town'. Outros fizeram isso também: Nick Cave and the Bad Seeds, pós-dissolução do Birthday Party, fizeram da então Berlim Ocidental a sua base. Tindersticks agora são uma banda local, emigrados há mais de 10 anos do Reino Unido. Pintores, escritores, cozinheiros, músicos - muita gente continua indo à capital alemã para iniciar uma nova etapa da vida.
Um restaurante escondido em uma parte residencial bem sonolenta de Neukölln, do lado oriental, trouxe uma dessas histórias: o Sauvage, que não existe mais, e que descobri por acaso, quando ainda não havia entrado em guias de viagem. O restaurante apostava em um cardápio de inspiração pré-histórica: somente carnes de caça, vegetais apenas por coleta e não cultivados, nada de leite ou trigo. Durante o jantar, música brasileira tocando em baixo volume, o tempo todo, o que levou à pergunta “por que só música brasileira?” a uma atendente (que parecia viajar em alguma droga não-identificada). Um dos donos é brasileiro, disse ela, e logo foi chamá-lo. Em minutos, o dono chegou com taças de schnapps e contou que morava em Berlim há anos - falava português já com sotaque - e que, quando chegou à Europa, com a cara e a coragem, fez cursos de culinária básicos e abriu um pequeno restaurante com o marido, anos antes. Era voltado a um público jovem e sem grana, ali mesmo em Neukölln, na parte próxima dos bares, e durante anos era um restaurante de bairro, crescendo aos poucos e sempre mantendo os clientes originais.
Anos depois, mantiveram o restaurante original com os preços baixos, em agradecimento ao público que os apoiou no começo, e abriram o Sauvage, mais sofisticado e pensado. Mas, em 2018, mais ou menos, voltaram ao plano original e o Sauvage fechou. Mas não terem abandonado seu público inicial foi o que me fez guardar essa história; faz pensar que Berlim não é uma cidade à qual as pessoas vão para ganhar muito dinheiro, subir na vida, ter carreiras fulgurantes - isso pode até acontecer, mas não parece ser o que move quem vai para lá.
Talvez haja um padrão - Bowie virou superstar depois, mas os discos feitos na sua época em Berlim são os mais experimentais e inovadores, típicos de um “novo” artista, que vivia como uma pessoa comum na cidade em que escolheu viver. Fui a uma loja de discos que ele frequentava, e nada ali indicava que algum dia ele havia pisado na loja; nada de fotos com o dono, que ainda era o mesmo, nada de placas. Como se fosse um cliente comum, igual a tantos outros procurando vinis nas prateleiras. U2 foi anonimamente ao Hansa Studios gravar seu melhor disco e um dos mais interessantes dos anos 1990, Achtung Baby (e eu, longe de ser fã da banda, reconheço isso), após virar uma das maiores bandas do mundo. Wim Wenders, depois da Palma de Ouro em Cannes com Paris, Texas, e após anos nos EUA, voltou à Alemanha com um de seus filmes mais pessoais, Asas do Desejo, na Berlim ainda dividida.
Lou Reed não foi a Berlim antes de fazer seu disco, mas as influências de Brecht, Wedekind e Weill e as letras que casam perfeitamente com os prédios cinzentos, os quartos tristes e o céu nublado são indissociáveis da cidade. Reed se reinventou também: havia acabado de ter o maior sucesso comercial de sua carreira, com produção de Bowie em Transformer, e tinha cacife para bancar seu próximo disco. Mas renasceu o Lou da época do Velvet Underground, melancólico e abrasivo ao mesmo tempo, com letras cortantes e sem concessões comerciais. Junto com a carreira solo de Nico, ajudou a moldar o que seria depois o pós-punk, antes até da onda punk de 1977.
O disco foi pensado como duplo e teria um encarte luxuoso. Acabou como simples, e boa parte da música foi cortada por Bob Ezrin, produtor. Na época, foi mal recebido e vendeu pouco. Mas não importava. Era Lou Reed se reinventando como ele mesmo: capaz de compor músicas pop incríveis e, ao mesmo tempo, fazer discos ousados e em seus próprios termos. Uma reinvenção, no final das contas, para ser aquilo que ele queria ser desde sempre: fazer o disco que estivesse a fim, muitas vezes radicalmente diferente do anterior e do seguinte, escrever o que quisesse, tocar o que quisesse. Talvez tenha entendido, com Berlin, que não precisava ser um popstar. E não queria ser.
Em 27 de outubro de 2013, um domingo preguiçoso em Berlim, num café em Prenzlauer Berg, eu soube da morte de Lou Reed. Morreu em paz, após praticar Tai Chi Chuan pela manhã. Um dos caras de quem mais tenho discos nas minhas prateleiras e uma inspiração para essa viagem acabava de partir de forma tranquila, depois de ser essencial e influente para a música do século XX.
Durante a tarde, procurei incessantemente algum lugar que tivesse uma garrafa de uma bebida esquecida: Dubonnet. Achei em um bar bem tradicional. Ergui um brinde a Lou, com a taça coupé com Dubonnet, gin e um twist de limão. Lembrei de uma letra que decorei anos antes. Do disco do qual decorei todas as letras, de tanto ouvir. E que ouço até hoje.
In Berlin, by the wall
You were five foot ten inches tall
It was very nice
Candlelight and Dubonnet on ice(…)
Oh, you're right and I'm wrong
You know I'm gonna miss you now that you're gone
Berlin, 1973, Lou Reed.
PARA SABER MAIS, EM 5 CLIQUES
Berlin, álbum original de Lou Reed, de 1973. E aqui o show de 2007, no Brooklyn, no St. Anne's Warehouse, com o álbum tocado na íntegra e que vai ter streaming gratuito de 20 a 29 de novembro de 2021.
Wim Wenders fez Asas do Desejo em Berlim antes da reunificação. Filme imperdível, inclusive com participação especial de Nick Cave and the Bad Seeds e Crime & the City Solution: ou seja, você tem Cave, Mick Harvey e o gênio Rowland S. Howard no auge. Aproveite para ver vários filmes de Wenders aqui no Mubi, todos valem a pena.
Boa matéria do NYTimes sobre Christopher Isherwood, uma das fontes para peregrinações que fiz pela cidade, depois de ter lido a edição da New Directions com suas duas novelas que se passam em Berlim.
Babylon Berlin, série que aproveita um bom cenário para uma trama policial: a Berlim dos anos 1920-1930. Tem na Globoplay e em torrents que não posso recomendar aqui, claro.
Matéria sobre os anos de Bowie e Iggy (a quem o primeiro chamava de James, inclusive em entrevistas). Vale só como introdução, já que essa época é um ponto alto da história dos dois e há muitas matérias e livros inteiros sobre isso. (qualquer dia, escrevo mais sobre isso).
Várias fontes ajudaram nesse texto: revistas antigas que li durante muito tempo, pesquisas novas, alguns livros (que, inclusive, foram fundamentais no roteiro da viagem por Berlim). Citei bastante coisa da biografia de Lou Reed por Anthony DeCurtis (que ainda não foi traduzida no Brasil). Para quem quiser procurar algo de Christopher Isherwood, recomendo Berlin Stories, que junta seus livros mais conhecidos. O filme Cabaret, de 1972, com Liza Minelli, é uma adaptação do musical baseado livremente nos livros de Isherwood.
PARA ACOMPANHAR A LEITURA
Dubonnet cocktail, França, 1910s
Um cocktail simples, na linha de drinks de gin+vermouth, como martinis, manhattans e variações. Mistura de Gin e Dubonnet - um vermouth francês mais encorpado e doce, que usa quinino e é pouco conhecido fora da França.
Conhecido também como Zaza, o drink é citado não apenas na música de Reed. Aparece também na música de Noël Coward, de 1938, I went to a marvelous party:
We knew the excitement was bound to begin
when Laura got blind on Dubonnet and gin
And scratched her veneer with a Cartier pin
I couldn't have liked it more 2
O drink pode ser tanto em taça coupe quanto em copo baixo, com gelo.
Mas a versão original é a abaixo:
2 doses de Gin - Tanqueray, Londres
1 dose de Dubonnet(a Rainha Elizabeth II, fã do drink, prefere a proporção contrária - mas o cocktail original nasceu com essa aqui)
Casca de limão siciliano