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Eu tinha seis anos de idade quando vi um livro na estante do consultório dos meus pais. A estante ocupava uma parede inteira. Vários livros técnicos, mas também muita coisa de literatura.
Meu pai contava sobre o começo da vida profissional como dentista: trabalhava pela manhã em postos de saúde pela região e à tarde, no consultório, ficava à espera de algum cliente que pudesse aparecer.
No interior de São Paulo dos anos 1970 bastava pendurar uma placa na porta para dizer que estava no negócio. O nome seria construído aos poucos e a propaganda boca-a-boca espalharia as boas novas. Pacientes viriam ao saber que havia um doutor novo na praça.
Enquanto esperava o resultado desse business plan, meu pai sentava em uma poltrona da sala de espera e lia. E lia. E lia.
Uma estante cheia, uma seleção da literatura em voga naquele tempo: Arsène Lupin de Maurice Leblanc, os livros de Georges Simenon que não têm o Maigret, Harold Robbins, Sidney Sheldon, Gabriela Cravo e Canela de Jorge Amado, John Updike e Irving Wallace (ó, que escândalo), Herman Hesse, Mario Puzo, Leon Uris, A Dieta revolucionária do Dr. Atkins, Cassandra Rios (ó, que escândalo em dobro). E acho que tinha até um Aldous Huxley perdido lá no meio desse acervo.Uma mistura do que era uma lista de best-sellers da época com algumas aleatoriedades. Desses, Simenon é grande até hoje, apesar de estar meio esquecido, Leblanc é bom e voltou à moda, Jorge Amado e alguns tantos continuam na mesma. Vários outros sumiram no tempo e ninguém mais liga.
No meio de tudo isso, vi a lombada de um livro em que aparecia um indígena estereotipado com cocar, mão levantada em sinal de paz. Lembrei na hora dos filmes que eu assistia nos anos 1980. Filmes de faroeste, aquela diversão das matinês de décadas passadas e que hoje são raridade, eram comuns na TV - havia até uma “Sessão Western” aos sábados. Hoje ninguém mais liga.
Dinossauros, Futebol, Piratas e Western - era tudo o que eu mais gostava nessa época. Puxei o livro da estante e vi mais ilustrações na capa. Os estereótipos todos do Western: indígenas, cavalaria, soldado atirando, deserto do Monument Valley de filme do John Ford. Meus pais prometeram que, assim que eu aprendesse a ler, poderia pegar o livro para mim.
Promessa cumprida. Foi o primeiro livro ‘sério’, adulto, que eu li.
“Mãe, o que é órgão genital?”
Minha mãe se assustou com a pergunta. Mostrei para ela o trecho do livro que eu lia: contava que soldados da Cavalaria dos EUA haviam mutilado órgãos genitais de indígenas massacrados em um ataque a uma aldeia pacífica (a palavra ‘genocídio’ não existia no livro, mas descreve bem o que foi o Massacre de Sand Creek de 1864, que era narrado nessa parte aí do livro).
O livro era um best-seller de não-ficção do início dos 1970: Enterrem meu coração na curva do rio, de Dee Brown (Bury my heart at Wounded Knee, título original que faz referência a um outro massacre cometido contra nativos no século XIX). Surgiu numa época em que a luta de nativos americanos estava em evidência. Recuperavam-se as culturas apagadas por séculos e descendentes desses personagens do livro lutavam por direitos iguais, na esteira da luta por Direitos Civis da população negra nos anos 1960. Foi meio que um pontapé inicial para uma série de livros e filmes que vieram na sequência e desmistificavam a chamada Conquista do Oeste, nos EUA.
O livro de Brown contou a história da Conquista do Oeste pela então inédita perspectiva da resistência nativa. A história contada no livro acontece no período pós-Guerra Civil, com a reunificação dos EUA na base da paulada e o maior crescimento econômico de um país desde a Inglaterra do início da primeira Revolução Industrial, no século XVIII. A ocupação do Oeste por brancos se intensifica nessas décadas, com o inevitável conflito com os moradores nativos. Brown constrói o foco do livro a partir do massacre de Sand Creek, em 1864, até o massacre de Wounded Knee, em 1890 - e não é uma escolha aleatória. É o período das chamadas Guerras Índias no Oeste americano.
Dee Brown acompanha algumas tribos específicas, em capítulos episódicos que contam como a conquista do Oeste foi feita com base em traições, mentiras, tratados rompidos unilateralmente pelos EUA e aquilo que hoje em dia convencionou-se chamar de limpeza étnica: táticas genocidas usadas oficialmente por um governo legalmente constituído. Bom historiador, Brown traça uma linha ideológica comum para todos os agentes governamentais - uma retórica genocida, devidamente documentada com citações de documentos oficiais e fontes da época como jornais e livros. Fica claro que era projeto.
Os vilões são evidentes, com seus perfis históricos contados minuciosamente. Tenente-coronel Custer e sua Sétima Cavalaria, praticamente uma SS a cavalo pelas planícies do Oeste; Generais Sherman e Sheridan, que levaram ao Oeste a tática de terra arrasada que haviam usado com sucesso na Guerra de Secessão; agentes das reservas indígenas, pastores e religiosos de diferentes matizes, todos corruptos ou canalhas, que enganavam e manipulavam as populações que juravam proteger; legisladores que cobriam com um verniz legal as maiores arbitrariedades e alteravam leis de acordo com a conveniência da colonização.
Uma geral rápida aqui: a conquista das Américas está cheia de genocídios e outras escrotidões cometidas contra os povos originários do continente. Extermínio na casa dos milhões, em qualquer latitude do continente americano. Dá para escrever muito sobre isso, em todos os países - inclusive, para desconstruir a falsa idéia de que a miscigenação foi natural no Brasil e assimilou sem atrito os habitantes originais ao modelo colonial português. Mas nos EUA há duas particularidades que são importantes ressaltar.
Enquanto a colonização na América Espanhola e no Brasil era, em linhas gerais, um empreendimento de exploração de recursos naturais e mão-de-obra, nos EUA havia outro tipo de preocupação, por ser uma colonização tardia: além do interesse econômico de se explorar um continente, o foco primordial era povoamento. O estímulo para que se ocupasse o território batia de frente com a existência de tribos que já ocupavam a terra; logo, o extermínio de quem estava lá antes ou sua assimilação forçada (a.k.a. subjugação) na cultura branca era essencial para o sucesso do empreendimento.
Ao mesmo tempo, o perfil dos imigrados para a América e que foram lançados ao Oeste também é relevante para se entender a guerra de extermínio sem trégua contra as populações nativas. Com predominância de religiosos fundamentalistas, os colonos viam nos povos indígenas um contraponto irreconciliável com suas crenças e modo de vida. Genocídio justificado pelo Cristianismo, contra todos os que não comungam da mesma crença ou que não têm a mesma cor.
Depois de ler esse livro, nunca mais vi um filme de John Ford da mesma forma.
“Nunca fui fã de John Wayne, John Ford e toda aquela besteirada de cowboy. Eu odeio esses dois. Nativos Americanos descritos como selvagens e animais. Fodam-se John Wayne e John Ford."
_Spike Lee, num evento da British Academy Film Awards (BAFTA), em 2018
O Western esteve na gênese do cinema - muito, na verdade, pela força narrativa mítica que a Conquista do Oeste possuía na virada para o século Vinte. Todo o imaginário do gênero funciona como uma construção da imagem dos Estados Unidos da América como país: a visão romântica e arcaica da excepcionalidade anglo-saxã domando a natureza das grandes extensões da América e subjugando qualquer adversidade - ou adversário. Uma representação imagética do Destino Manifesto, doutrina que pregava a inevitabilidade do domínio absoluto dos brancos americanos sobre o continente por delegação divina.
O grande Spike Lee tem razão: boa parte dos filmes do gênero são compostos por estereótipos, preconceito, distorções históricas e validação da política genocida que permeou a expansão do país para o Oeste. Difícil tirar até mesmo John Ford dessa: muitos dos seus filmes, especialmente com John Wayne, podem ser acusados de tudo isso, por mais importantes que sejam na História do Cinema.
Não é o caso de jogar tudo fora: Ford tem grandes filmes e alguns, inclusive, subvertem de alguma forma essa ideologia dominante do faroeste. Rastros de Ódio (1956) é um bom exemplo: JohnWayne é o anti-herói do filme, Ethan Edwards, um sulista que volta da Guerra Civil e descobre que a família foi morta e que a sobrinha foi raptada por Comanches. Dedica sua vida a libertar a menina. Ford não deixa de ressaltar o racismo do personagem - que chega a atirar pelas costas em um indígena em fuga. Mais: Ethan tenta matar a sobrinha ao vê-la integrada aos indígenas que a raptaram (bom, tem gente que prefere ver filho morto a ter filho gay). Ford filma a tragédia de um homem que não consegue mudar, que não consegue (e nem quer) entender o que acontece ao seu redor, obcecado com uma visão de mundo restrita e imutável.
E, como Wim Wenders ou Martin Scorsese, ainda assim sou fã de Westerns: poderia citar outros grandes filmes de Anthony Mann, Raoul Walsh, King Vidor ou Howard Hawks. Mas nuances assim e um olhar menos enviesado não eram a norma no gênero.
Além dos faroestes supremacistas que povoavam as Sessões da Tarde, outros pedaços de cultura popular ajudavam a construir esse imaginário ideológico do Oeste Selvagem.
Histórias em Quadrinhos são um bom exemplo: Faroeste foi um grande tema em HQs durante a Era de Ouro dos quadrinhos nos EUA, entre os anos 1930-1940. Em geral, histórias com o mesmo viés racista e chapa-branca dos filmes - a boa e velha receita “indígenas maus, desumanizados e violentos contra gente branca que só quer lei e ordem e cultivar sua terrinha”. Essa vertente das Histórias em Quadrinhos sumiu com a ascensão dos Super Heróis Marvel na década de 1960. Mas não sem antes ter prestado bons serviços à Terra da Liberdade, Lar dos Corajosos.
E não foi por acaso, notem bem. Subiu a plaquinha na beira do campo imaginário de Make America Great Again e cowboys/cavalaria saem, entram os Super Heróis. Isso merece mais espaço do que só essa citação aqui e ainda vou desenvolver esse tema.
Essa mesma obsolescência atingiu a indústria de brinquedos. Quem nasceu a partir da década de 1990 não deve ter qualquer memória de brinquedos de Faroeste: mas houve uma época em que um Forte Apache era um dos grandes hits das compras de Natal. Bonecos sem movimento, de plástico, uma única cor: azul para cavalaria, branco para cowboys e mineradores, vermelho para indígenas. Quem tinha mais sorte e dinheiro poderia ter bonecos coloridos. Alguns mais sortudos ainda - eu me incluo nessa categoria - tinham os bonecos da Deetails, empresa britânica que fazia uns bonecos bem pintados e com moldes bem-feitos e bem fiéis à realidade, com base de metal nos pés.
Tive centenas dos bonecos de plástico meia-boca e alguns coloridos. Em algum momento tive também os da Deetails, e mais uns 4 ou 5 Fortes Apache, postos militares feitos de madeira de verdade. A ideia desses brinquedos era você reproduzir as histórias que via nos filmes ou nas HQs: índios maus, soldados valentes, pobres cowboys e garimpeiros que só queriam viver sua vida em paz e progredir, com a graça do Senhor.
Havia umas figuras como um oficial (capitão?) com três flechas cravadas no corpo, mas ainda com seu revólver numa mão e o sabre na outra, rosto resoluto, como a significar que nada pode parar o progresso da nação: praticamente um São Sebastião do Destino Manifesto.
Ou ainda um soldado raso flechado em dois pontos, brandindo desesperadamente o rifle como se fosse uma clava. Aparentemente, a distinção de classes se faz presente: duas flechas já deixam o soldado transtornado, enquanto o capitão continua impávido, pelejando como se as flechas espetadas no lombo nada fossem.
- Ai, capitão, tá difícil aqui, não aguento mais!
- Tá me vendo reclamar, ô soldado? Chega de mimimi! Esse mundo tá ficando chato, ninguém mais quer trabalhar sério. Agora é só ‘ain, quero registro em carteira, quero bolsa isso, bolsa aquilo…’
O livro de Dee Brown mudou minha forma de ver filmes, brinquedos, Histórias em Quadrinhos.
"Ain, mas peraí, que lacração, né, mêo? Como pode? Você ainda criança já era todo woke? Tem algo errado aí, man” - falaria aquele proverbial amigo ou parente que gosta de policiamento ostensivo e desgosta de reparação histórica, que acha que o mundo está ficando muito chato e que genocídio no povo dos outros é refresco.
E aqui um disclaimer para todos vocês. Principalmente você aí, que é pai, mãe, ou responsável por uma criança: não acredite naquela lorota de que livros, filmes ou música não ‘doutrinam’ ninguém.
É tudo mentira. E posso provar.
Depois de ter lido esse livro de não-ficção, com histórias reais sem filtro algum (agradeço aqui aos meus pais, que ao deixar que eu pegasse o livro da estante, naquela tarde, não pensaram por um segundo no conteúdo), posso dizer: TUDO o que uma pessoa lê tem influência em sua visão de mundo.
As brincadeiras com os bonecos de Forte Apache passaram a ter outro viés. Agora, eu escolhia como vilão um comandante de Cavalaria louco por fama e glória como “matador de índios”, um indígena traidor que se mancomunava com a Cavalaria, um picareta garimpeiro que queria criar conflitos para lucrar.
Cheguei a criar, numa época, um grupo de 4 aventureiros - um grupo multiétnico branco/latino/indígena, segundo os bonecos que eu tinha na época - que sempre confrontavam os maiores escrotos do Oeste.
Comecei a analisar bem os filmes que eu via: aquele Custer do Errol Flynn, por exemplo, eu achava totalmente errado - e olha que ele só fazia papéis nos gêneros de filmes que eu gostava: Piratas, Guerra, Western, Colonialismo em geral. Fez até Robin Hood, obviamente numa leitura totalmente errada. Errol Flynn era o casting correto como Custer: , por trás da imagem de galã e herói, as más-línguas dizem que gostava de “novinhas”, fazia qualquer coisa por dinheiro, era politicamente de extrema-direita, alcoólatra, viciado em morfina e foi espião nazista, segundo alguns relatos. Um cidadão de bem, em resumo.
Nas Histórias em Quadrinhos eu tive sorte: não li muito os quadrinhos dos EUA, mas Europa não decepcionava. Blueberry dos franceses Charlier e Moebius, Túnicas Azuis dos franceses Calvin e Salverius, até o Tex do italiano Bonelli (o mais conservador de todos) tinham uma visão bem diferente do Oeste, iconoclasta, até. Também li muito Rino Albertarelli, mestre das HQs italianas, que fazia uma série de desmistificação da História do Oeste, depois de anos criando HQs nos moldes das originais americanas.
E era só lacração? Não acho. Basta ver que há muito tempo não se encontram mais brinquedos assim em lojas (a menos que seja para colecionismo), não se tem notícia de filmes de Western, com exceção dos desmistificadores ou das bombas do Kevin Costner. São artefatos de uma era distante, arcaica, com uma visão maniqueísta e simplista do mundo. É algo que ficou no passado - e ainda bem.
Tenho carinho por esses filmes e brinquedos de que falei. Fizeram parte da minha formação. Alguns filmes eu ainda hoje considero como parte da História do Cinema. Mas são isso: um retrato de uma época que já passou e que tem muito a nos ensinar, mas nada a ser imitado ou admirado.
O museu que mais gosto, o de História Natural de Nova York, fechou recentemente as alas com artefatos indígenas. O motivo? A maior parte do que estava lá havia sido resultado de pilhagens, escavações arqueológicas sem autorização dos povos nativos e muita cara de pau. Que devolvam tudo. Faz mais sentido que esses artefatos todos estejam expostos em museus administrados pelos próprios descendentes dos povos originários ou que apareçam em exposições autorizadas e avalizadas por eles.
Enquanto isso, vou sempre me divertir com o esqueleto do Dimetrodon (outra lembrança nostálgica de infância: dinossauros) ou com o diorama da luta entre a Baleia e a Lula gigante. Nesse mesmo museu, vi uma exposição de Pterodáctilos da Bacia do Araripe, no Crato, com fósseis escavados e restaurados em colaboração com universidades locais e o governo brasileiro - um longo caminho desde os tempos em que pesquisadores de museus como esse simplesmente colhiam fósseis mundo afora e levavam embora sem pensar duas vezes. Ou seja, dá para fazer diferente em relação às culturas indígenas americanas (ou culturas de outras partes do mundo). Basta exercitar a alteridade e entender a perspectiva do outro.
É fácil entender o pavor intenso que bolsonaristas e outros bichos exóticos da extrema-direita têm em relação à cultura.
Ler esse livro mudou tudo para mim, profundamente, desde essa época. Fez parte da minha formação e me ajudou a entender o mundo e contestar o que eu achava que deveria ser questionado.
E acontece naturalmente: você passa a ler livros que contestam visões pré-estabelecidas, reconhecer à distância filmes que não valem o celulóide gasto, sacar que aquele cantor de vida bandida vai, em algum momento, pegar uma saída pela direita e virar tudo aquilo que você mais odeia no rock. Vai entender na hora que os comentários do “especialista em política internacional” que aparece dia sim e outro também na TV como sommelier de genocídio são assessoria de imprensa para alguém. Ou vai saber que é cilada quando aquele bem-intencionado e articulado jornalista fala que não entraria tranquilo em um avião, se soubesse que o comandante ‘recebeu um empurrãozinho’ na carreira.
Não é fácil. No meu caso, um livro escolhido de forma aleatória, sem que eu tivesse qualquer informação a respeito dele, foi responsável por abrir todo um universo de conhecimento.
Hoje, Enterrem meu coração na curva do rio está esquecido e acumula poeira em estantes por aí, em bibliotecas, sebos ou estantes de algum espólio. Teve importância fundamental na época em que foi lançado, muito pelo contexto: o massacre da aldeia de Mi Lay por soldados dos EUA, no Vietnã em 1968, era macabramente parecido com o que Brown narrou em seu livro; a 7ª Cavalaria, agora um regimento de tanques, esteve envolvido em outras atrocidades em toda a sua história e arrepiava no Vietnã também; em 1973, um grupo de indígenas do American Indian Movement ocupou Wounded Knee, simbolicamente o palco do último massacre que Brown aborda em seu livro, para dar publicidade à situação de penúria em que viviam as reservas indígenas. Hoje, outros genocídios estão em curso, em todo o mundo. História que se repete. E farsa que continua.
A luta pela identidade e contra o apagamento de culturas está mais forte do que nunca, há mais informação e um livro como esse já está até ultrapassado. Nem na minha estante está mais - ficou em alguma outra estante na casa da minha mãe. Mas ainda lembro de passagens inteiras. E fico feliz por ter lido na hora certa.
"devemos agir com obstinação vingativa (…) até o extermínio de homens, mulheres e crianças."
_William Tecumseh Sherman, general do Exército dos EUA, 1867.
Sherman foi o criador da tática de terra arrasada, que colocava exércitos para destruir tudo no caminho e causar o máximo de transtornos para a população civil. Levou isso para o Oeste, nas Guerras Índias. Uma das suas táticas foi incentivar a caça indiscriminada e predatória de bisões, fonte de alimentação dos nativos por meio da caça. Em 1890, essa espécie havia sido praticamente extinta no Oeste norte-americano.
“Devemos matá-los, grandes e pequenos (…) Lêndeas formam piolhos"
_John Chivington, Pastor Metodista e coronel do Corpo de Voluntários do Exército dos EUA, 1864, comandante do massacre de Sand Creek
“Os únicos índios bons que vi estavam mortos”
_Philip H. Sheridan, general do Exército dos EUA, 1869, em resposta ao chefe comanche Tosahwi, que havia se apresentado a ele falando o pouco de inglês que sabia: “Tosahwi, good indian”
“O único índio bom é o índio morto”
_ditado apócrifo, baseado na frase de Sheridan.
P.S.: E fiquem aí com o vídeo para Freedom, do Rage Against the Machine, de 1992. Praticamente um curta que conta o caso de Wounded Knee em 1973, que citei lá em cima, e da prisão de Leonard Peltier, ativista indígena que cumpre atualmente duas penas de prisão perpétua, condenado em um julgamento completamente enviesado.
Esse vídeo passava na programação normal da MTV. Mais um exemplo de como cultura é importante na formação de sua visão de mundo.